quinta-feira, 23 de outubro de 2008

"The Wild Angels" (1966, dir. Roger Corman)

Eu tinha 7 anos de idade quando vi esse filme pela primeira vez. Nunca comprei uma moto nem usei adereços nazistas para chocar a sociedade, mas o impacto de ver Peter Fonda de jaqueta de couro e óculos aviator discutindo com um padre e questionando o papel da sociedade e da religião deixou marcas indeléveis na minha mente. Acho que foi nessa madrugada, vendo filmes escondido de meus pais na extinta TV Manchete, que perdi minha inocência e tornei-me um homem.

Hoje, 22 anos depois, o filme não parece mais tão assustador quanto naquela época, mas ainda guarda boas surpresas. Segundo o próprio Fonda, o germe de "Easy Rider" já estava aqui, e foi inspirado por esse filme que ele escreveu o roteiro do filme de motoqueiros definitivo, aquele que retratou com fidelidade a desilusão e o lado sombrio dos anos 1960. Enquanto Nova York curtia Woodstock, a California tinha Altamont. The Wild Angels e Easy Rider são retratos dessa outra realidade.

A história do filme é simples: os Hells Angels de San Pedro vão até o México recuperar a moto de um deles que havia sido roubada. Há uma briga em uma oficina mecânica, que chama a atenção da polícia. Na fuga, o motoqueiro Loser (Bruce Dern), amigo do líder da gangue, Blues (Fonda), foge na moto de um dos policiais. O outro tira o persegue pela estrada, e atira em suas costas. Levado o hospital, Loser é resgatado por seus companheiros, mas acaba morrendo no esconderijo praiano da gangue. Seu corpo é levado até a cidade onde ele nasceu, a bucólica e arborizada Sequoia Groves. Em um caixão ornado por uma bandeira nazista, Loser é velado, e um padre é chamado para fazer o serviço. Quando ele começa a falar sobre Deus e a vida, Blues se levanta e questiona o que ele diz. Começa então uma grande festa na igreja, com tudo que uma orgia de motoqueiros tinha direito nos anos 1960: congas, surf music, bebidas, estupros, e dancinhas malucas. Eles então levam o corpo de Loser até um cemitério para finalmente enterrá-lo, mas são seguidos por uma multidão de curiosos. Começa uma briga, e os motoqueiros fogem quando ouvem a sirene da polícia. A namorada de Blues pede a ele que fuja com ela, mas ele responde: "Não há para onde ir". As motos fogem pela floresta enquanto a polícia chega, e Blues se resigna a pegar uma pá e começar a enterrar o amigo morto.

Comportado para os padrões hollywoodianos de nossa época, o filme provocou muita polêmica quando de seu lançamento -uma especialidade de seu diretor e produtor, o lendário Roger Corman. Proibido no Reino Unido, só foi lançado na ilha da rainha em 1971, com severos cortes. Nos EUA, Corman foi processado pelos próprios Hells Angels, que o acusaram de ter feito uma imagem distorcida do grupo.

O destaque da história fica por conta da relação "amorosa" entre Blues e sua namorada Mike (Nancy Sinatra). Depois da morte de Loser, Blues torna-se melancólico e distante. Esse clima do personagem vai ser posteriormente a semente de Capitain America em Easy Rider.

A trilha sonora tem alguns bons momentos, nas mãos do lendário (para mim) Davie Allan e sua banda The Arrows, especialmente no hit "Blues' Theme". O single chegou ao número 37 da parada da Billboard, onde permaneceu por 17 semanas. Foi a primeira música que Eddie Van Halen aprendeu a tocar na guitarra.

Fiquei reparando na trilha e vendo como em 1966 ainda era absurdo pensar em distorção. Nas cenas mais loucas, onde os motoqueiros quebram tudo, a música parece uma versão instrumental de alguma música dos Beach Boys com bongôs e congas. Aliás as congas aparecem nesse e em vários outros filmes da época como um símbolo de pura selvageria. Vai entender. 3 anos depois, a trilha de Easy Rider já seria completamente diferente, misturando folk, country, psicodelia, overdrive e fuzz.

Quanto à iconografia nazista, os motoqueiros dessas gangues usavam esses símbolos para chocar as pessoas. Até onde constam os alfarrábios, nenhuma dessas gangues tinha qualquer espécie de envolvimento com política ou ideologias, e só queria saber de curtir, beber, transar, fumar maconha, e pilotar as máquinas. No começo do filme um homem diz "nós costumávamos matar caras que usavam essas coisas", ao que os motoqueiros respondem... nada. A origem disso deve estar no fato de que essas gangues da California nasceram logo após o fim da II Guerra Mundial, quando os soldados que voltaram bastante perturbados do front se recusavam a se misturar na sociedade, preferindo ficar de fora do esquema e curtir sua depressão em paz.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

"Vá e Veja" (1985)

Até hoje, "Vá e Veja" era apenas um título na minha memória. Quando esse filme foi lançado, em meados dos anos 1980, eu era apenas uma criança, e não estava preparado para compreender nada do que ele significava. A censura não me permitiria vê-lo, talvez por causa das cenas de violência, talvez por causa das cenas de verdade.

O filme de Elem Klimov é passado na Bielorrússia, na véspera da invasão do território pelos soldados alemães na II Guerra Mundial. No filme, acompanhamos a trajetória do menino Florya Gaishun, que abandona a família para se juntar à guerrilha de resistência de sua pequena aldeia na zona rural. Os alemães atacam, e Florya se perde do grupo.

Estrategicamente, o filme se concentra em apenas um garoto, e em apenas um vilarejo para contar sua história. Depois de nos fazer compreender o que significou todo o horror daqueles eventos, um letreiro no final nos informa que o que acabamos de testemunhar ocorreu não uma, mas centenas de vezes naquele país. A Bielorrúsia é a fronteira lesta da Polônia, e era a principal porta de entrada dos alemães rumo à União Soviética. O país ficou sob o domínio dos nazistas entre 1941 e 1944. Nesse período, os alemães destruíram 209 das 290 cidades do país, e destruíram mais de 600 vilarejos rurais. Os nazistas também destruíram 85% das indústrias emais de um milhão de edifícios, causando perdas humanas estimadas entre 2 e 3 milhões de pessoas (de 1/4 a 1/3 da população total do país).

É sempre interessante ver um filme de II Guerra que não conte apenas o ponto de vista dos estadunidenses ou dos ingleses. A história é sempre contada do lado dos vencedores, e dificilmente temos a oportunidade de ver um filme sobre os massacrados da guerra. Geralmente o que vemos são heróis bem armados e em veículos bonitos, esbanjando coragem e inteligência. Poucas pessoas fazem filmes sobre o verdadeiro horror da guerra.

Um dos poucos que se dedicam a isso em nossos tempos, e que certamente é um fã de carteirinha de "Vá e Veja" é Steven Spielberg, que certamente se inspirou nesse filme para "O Resgate do Soldado Ryan", mais especificamente na famosa seqüência inicial.

Depois disso tudo, o título do filme permace de certa forma misterioso. A frase "vá e veja" não é dita hora nenhuma no filme - é praticamente uma mensagem direta do diretor ao espectador, declarando abertamente o seu objetivo ao fazer esse filme.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

"Devil's Angels"

Acordei num puta mau humor, com jet-lag de horário de verão, telefone tocando, interfone, o diabo. Voltei pra cama por volta das 9 da manhã - isso é o que dizia o relógio, na verdade eram só 08:00 - e liguei a TV para ver se espantava os maus espíritos.

Foi quando vi no Telecine Cult os créditos iniciais de "Devil's Angels" (1967), produzido por Roger "Nunca Dei Prejuízo" Corman e estrelado por John "Faces" Cassavettes.

É um filme de motoqueiros na linha de "The Wild One" com o imortal Brando, e que na minha cabeça faz dupla com outro filme de Corman com Angels no título: "Wild Angels", de 1968, estrelado por Peter Fonda, que já tinha trabalhado com Corman em "The Trip". Esses dois filmes inspiraram Fonda a escrever "Easy Rider".

Quatro filmes de motoqueiros com uma coisa em comum: retratar, bem ou mal, os niilistas e pós-existencialistas não-intelectuais dos Estados Unidos de meados do século XX. São filmes que nos recordam que até mesmo os incultos têm o direito de não acreditar em nada - e que por isso mesmo serão sempre perseguidos até a morte pela polícia e pela igreja.

Trilha sonora memorável de Davie Allan & the Arrows.

Beverly Adams parece um sonho como Lynn, a namorada de Cody (Cassavettes) - ela é a gostosa Cassandra de "Como Encher Um Biquíni Selvagem".

Na fila: "Tuff Turf" e "The Wraith - A Aparição".

domingo, 31 de agosto de 2008

Com apenas 1 ano de atraso... Oscar 2007!

Assisti recentemente a dois filmes que concorreram ao Oscar 2007. De todos os filmes que concorreram naquele ano, eram dois dos únicos poucos que eu fiquei com vontade de ver algum dia.

Dreamgirls (2006, dir. Bill Condon)

Dreamgirls é baseado em um musical da Broadway dos anos 1980. Se eu soubesse disso antes, jamais teria perdido meu tempo vendo o filme. Mas já que a ignorância nos fazer as coisas mais loucas, acabei encarando as três horas de duração do filme. Na verdade são apenas 130 minutos, mas parecem mais.

O problema básico do filme é que o roteiro e a edição foram feitos tendo em mente o público adulto feminino estadunidense, ou seja: muito detalhe e cuidado nas roupas e nas cenas de amor, e absolutamente nenhum compromisso com a verdade, fatos históricos, ou alguma espécie de estrutura narrativa. Em resumo, é um filme de emoções baratas e músicas ruins, que estragam o que poderia ter sido um épico musical dos mais interessantes. A história, baseada mal e porcamente na trajetória da gravadora Motown, é uma picaretagem danada que mistura biografias reais com fatos misturados, deixando os "inspiradores" do texto com o filme sujo na praça.

A Dreamworks, produtora do filme, afirma veementemente que o roteiro é totalmente ficcional, e se recusa a admitir o óbvio: Curtis é Berry Gordy, as Dreamettes são as Supremes, C.C. é Smokey Robinson, e o personagem de Eddie Murphy é uma mistura de Jackie Wilson com Marvin Gaye.

O maior problema do filme é que nenhum desses talentos da vida real aparece realmente nos filmes. Nos contemporâneos "Way" e "Walk the Line" você ouve as músicas originais, e elas são excelentes, capazes de salvar qualquer roteiro ruim ou edição picareta. As músicas de "Dreamgirls" são apenas musiquinhas medíocres da Broadway, e as cantoras principais cantam se esgoelando o tempo todo, como se estivessem competindo por uma medalha de ouro. Elas fazem tanta força para modular a voz o máximo de vezes possível em cada sílaba da letra que a gente fica até sem fôlego. E quando você faz um filme musical onde o seu melhor cantor é o Eddie Murphy, é sinal de problemas.



No Country For Old Men (2007, dir. Joel Coen & Ethan Coen)

Sempre um oásis no grande deserto que se tornou o cinema estadunidense, os irmãos Coen fabricam dois tipos diferentes de filmes: aqueles que eles são pagos para fazer, e aqueles em que eles realmente se concentram. É fácil perceber qual é qual só de assistir os filmes ou de ver a lista de atores. E esse é um dos "bons".

A maior crítica que eu ouvi a esse filme foi a de que o final é aberto e não explica nada. Aparentemente, as pessoas acham que, se o filme não termina com uma perseguição em alta velocidade e um bandido sendo preso ou morto, o final é aberto. Não é bem assim que funciona.

Eu já atingi um zen cinematográfico tão elevado que para mim até mesmo o final de "Blow Up" é fechado o suficiente para me satisfazer. Pois o final de "No Country For Old Men" é bastante adequado. O filme não conta a história de um policial que persegue um bandido. Ele é uma reflexão sobre a profissão de policial, a natureza do crime, e várias outras coisas que não podem ser resolvidas com tiroteios e explosões.

Sempre bebendo na fonte do mestre Hitchcock, os irmãos Coen criam nesse filme um McGuffin clássico: uma mala cheia de dinheiro, encontrada por um caipirão meio cowboy. Ele a encontra no meio de um monte de traficantes mortos, e pega o dinheiro para tentar melhorar de vida com sua esposa. Surge em cena um assassino profissional que começa a persegui-lo, e cria-se então um triângulo dramático entre o assassino e seus contratantes, o homem com a mala cheia de dinheiro, e um xerife que persegue o assassino por causa de outros crimes, e tenta ajudar o homem da mala.

O que acontece nesse imbroglio todo eu não posso contar senão estraga o filme, mas preciso reafirmar que o final não é nada aberto. Ele é apenas real demais para satisfazer o público mais ingênuo. As pessoas esperam que um filme funcione como uma luta livre encenada, onde o bom vence o mau e a justiça sempre triunfa. Acontece que a vida real não é assim. Ela é fragmentada, não-linear, e depende muito mais das ações das pessoas do que de conceitos como justiça, verdade, pureza, honra, glória e outras baboseiras. Se no final desse filme você ficar frustrado porque o vilão não morreu nem foi preso, você não entendeu nada. Volte para o começo e tente novamente. Ou então assista "Zodiac", do David Fincher.



Vou fechar esse comentário com uma citação que vem bem a calhar, e que tem me ajudo muito a compreender o vastíssimo e complicado universo do cinema:

"A realidade é mais estranha do que a ficção,
porque a ficção precisa ter algum sentido."
- Mark Twain

domingo, 13 de julho de 2008

Frank Sinatra, o ator

Eu conheços muitos fãs do Frank Sinatra. Mas todos eles sempre falam sobre as músicas. Não tenho nada contra elas, mas, pessoalmente, sempre preferi o Sinatra ator do que o cantor.

Vou explicar.

Tudo comeou quando vi "The Man With the Golden Arm" (1956, dir. Otto Preminger) pela primeira vez. Desconfiado da presença de Sinatra no papel de um baterista viciado em heroína, confiei na direção de Otto Preminger e não me decepcionei. A atuação de Sinatra é precisa e comovente, e fica difícil imaginar que o estúdio havia reservado o papel para Marlon Brando. Nada contra Brando, mas depois de ver o filme com Sinatra, fica difícil imaginar qualquer outro ator em seu lugar.

Esse filme não é tão famoso quanto deveria. Para exemplificar o quanto ele é forte e pertinente, basta dizer que, em 1956, mostrar uma pessoa tomando heroína em um filme era mais do que impensável. O filme não conseguiu ser lançado até o ano seguinte de sua produção, quando modificações no "código de ética" de Hollywood permitiram que ele recebesse um lançamento oficial da indústria. Até então, temas como drogas, incesto e estupro estavam proibidos de ser mostrados e discutidos em filmes.

A história é simples e comovente: o baterista de jazz Frankie Machine, viciado em heroína, precisa ganhar dinheiro para sustentar sua esposa paralítica, que ficou aleijada por culpa dele. Nos velhos tempos ele costumava ganhar dinheiro da máfia trabalhando como croupier em mesas clandestinas de poker. Quando ele decide largar tudo e dedicar-se exclusivamente a tocar bateria, os mafiosos o convencem, com a ajuda da heroína, a continuar dando as cartas mais um tempo, e ele fica preso nesse círculo vicioso sem ter chance de escapar. Até que... não, desculpem, não vou contar o final.

Reforcei minha admiração pelo Sinatra ator ontem à noite, quando finalmente consegui rever um clássico que sempre me escapuliu: "The Manchurian Candidate" (1962, dir. John Frankenheimer). Nesse filme, soldados que voltaram da Guerra do Coréia começam a ter sonhos idênticos e perturbadores, e começam a desconfiar de que foram vítimas de lavagem cerebral.

Se eu soubesse sobre o que esse filme realmente se tratava, eu o teria visto há muito mais tempo. A lavagem cerebral é apenas o ponto de partida de um esquema muito mais sinistro, envolvendo senadores, imprensa, e a eleição do próximo presidente dos EUA. Tudo isso misturado a relações psicológicas muito esquisitas entre um herói de guerra, sua mãe, seu padrasto, sua ex-namorada, e um mordomo chinês.

Para vocês terem uma idéia do impacto do filme na época de seu lançamento, ele foi proibido em muitos países da Cortina de Ferro, como Polônia, Tcheco-Eslováquia, Hungria, Bulgária, Romênia, e até mesmo em países ditos "neutros" na época da Guerra Fria, como Finlândia e Suécia. Na maioria desses países, o filme só foi liberado em 1993, depois da separação da União Soviética.

Infelizmente, em pleno ano de 2008 esse filme continua atual e assustador. Não que eu acredite que os soldados americanos estão sendo capturados pelos inimigos e tendo suas mentes lavadas e reprogramadas por comunistas chineses e russos - é que agora eles não precisam mais ir tão longe para que isso aconteça. Depois que a guerra fria acabou, quem é o verdadeiro inimigo?

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Easy Rider (1969)

Easy Rider (1969)
Dirigido por Dennis Hopper
Escrito por Peter Fonda, Terry Southern e Dennis Hopper
Fotografia de Lazlo Kovacz

Existe uma lista muito seleta onde apenas alguns poucos filmes conseguem entrar: a lista dos filmes que todo mundo já ouviu falar, nunca assistiu, e tem certeza de que sabe como eles são, mas estão completamente enganadas a respeito deles. Easy Rider faz parte dessa lista.

Ao contrário do que parece, esse não é um filme sobre os loucos anos 60. Não é uma ode à liberdade e nem um manifesto a favor das drogas. É tudo isso ao contrário: foi feito por cineastas e atores que estavam com o saco cheio dos anos 60, e não agüentavam mais participar de filmes sobre drogas e motoqueiros. Foi o grande ícone desse estilo de filme, Peter Fonda, que iniciou o projeto, tentando criar um anti-filme-de-motoqueiro. É por isso que o cartaz do filme não tem motos muito loucas nem mulheres nuas dançando: mostra seu personagem, o Capitão América, observando calmamente o horizonte do deserto. Seu personagem e o Bufallo Bill de Dennis Hopper são metáforas muito óbvias do assunto do filme. Um deles, de aparência moderna, traz uma grande bandeira dos EUA na jaqueta, e outra pintada no tanque da moto. Seu parceiro é o ícone do cowboy, do pioneiro que desbravou o oeste em meio a índios, mexicanos e búfalos. Ele tipifica o sentimento original dos estadunidenses, perdidos e livres pelas pradarias montados em seus cavalos. Em busca desse sonho fantasioso e romântico, a dupla cai na estrada em busca da América que seus pais lhe prometeram.

Se eles encontram isso ou não, você vai ter que ver o filme até o final para descobrir.

Esse filme é uma espécie de "show dos Rolling Stones em Altamont" do cinema. Essencial para compreender os anos 1960, mas de uma maneira cruelmente verdadeira. Se você gosta de morar no passado, fique longe desse filme.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Kubrick explica 2001



"You begin with an artifact left on earth four million years ago by extraterrestrial explorers who observed the behavior of the man-apes of the time and decided to influence their evolutionary progression. Then you have a second artifact buried deep on the lunar surface and programmed to signal word of man's first baby steps into the universe -- a kind of cosmic burglar alarm. And finally there's a third artifact placed in orbit around Jupiter and waiting for the time when man has reached the outer rim of his own solar system. When the surviving astronaut, Bowman, ultimately reaches Jupiter, this artifact sweeps him into a force field or star gate that hurls him on a journey through inner and outer space and finally transports him to another part of the galaxy, where he's placed in a human zoo approximating a hospital terrestrial environment drawn out of his own dreams and imagination. In a timeless state, his life passes from middle age to senescence to death. He is reborn, an enhanced being, a star child, an angel, a superman, if you like, and returns to earth prepared for the next leap forward of man's evolutionary destiny."

terça-feira, 22 de abril de 2008

"19 Coisas que eu Aprendi com os Filmes"

por Pradeep /tradução: Daniel Poeira

1. Se você está sendo perseguido pela cidade, você sempre pode se esconder em um desfile do Dia de São Patrício. Em qualquer época do ano.

2. Todas as camas têm lençóis com um formato especial que conseguem cobrir o corpo de uma mulher até a altura das axilas, mas que deixa os homens descobertos até a cintura.

3. Todos os sacos de loja de comida têm uma baguete aparecendo.

4. Depois de aplicado, o batom nunca sai - mesmo se você mergulhar no oceano.

5. Todos os prédios têm um sistema de ventilação que permite que você se esconda dentro dele. Ninguém nunca vai pensar em procurar dentro dele, e você ainda pode se deslocar até qualquer outra parte do prédio sem dificuldades.

6. Se você quiser fingir que é um oficial ou soldado alemão, não é preciso saber falar alemão. Basta usar um sotaque.

7. A Torre Eiffel pode ser vista de qualquer ponto de Paris.

8. Um homem não demonstra nenhuma dor ou agonia quando está sendo espancado, mas sofre muito quando uma mulher cuida de um ferimento seu.

9. Quando você sai do taxi, não é preciso olhar dentro da carteira para escolher uma nota. Qualquer nota serve - você sempre pega o dinheiro no valor exato da corrida.

10. Se você perde uma mão, o cotoco deixa seu braço 15cm mais comprido.

11. Todas as mães cozinham ovos, bacon e waffles para a família no café da manhã, apesar do marido e dos filhos nunca terem tempo de comê-los.

12. Carros e caminhões que batem sempre explodem e pegam fogo.

13. Um único fósforo é suficiente para iluminar uma sala do tamanho de um estádio de futebol.

14. Na Idade Média, todo mundo tinha dentes brancos e bonitos.

15. Todas as mulheres solteiras têm um gato.

16. Qualquer pessoa que tiver um pesadelo vai acordar, pular da cama, ficar sentada, e arfar muito.

17. Um homem atirando em 20 homens tem mais chance de matá-los todos do que 20 homens atirando em um homem sozinho.

18. Sempre que você ouvir uma música sinistra vindo de um cemitério, você tem que entrar para investigar.

19. Quase todo mundo tem um caderno de recortes de jornal, especialmente aquelas pessoas que tinham algum parente ou amigo que morreu em um estranho acidente de barco.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Across the Universe

Mantendo o espírito crítico (e sarcástico) deste mavioso blog, decidi escrever uma resenha de um filme que eu, literalmente, não vi e não gostei. Trata-se da mais nova picaretagem do gênero beatlesplotation, "Across the Universe", uma historinha de amor montada a partir das letras das músicas dos Beatles.

Esse tipo de obra criada a partir de referências óbvias e outra(s) é uma faca de dois legumes. No caso dos Beatles, é algo tão criativo, inovador, interessante e arriscado quanto fazer uma propaganda com criancinhas fofas ou filhotes de cachorro. Ou fazer um comercial de margarina mostrando uma família tomando café-da-manhã ou qualquer coisa do tipo. Enfim, é de uma preguiça ignominável: gostar de Beatles é mais ou menos como gostar de pizza ou de chocolate, uma coisa tão óbvia e generalizada que nem vale a pena citar. Todo mundo se acha fã de Beatles, e pronto.

E então quando alguém, mais uma vez, resolve se aproveitar das músicas dos Beatles para criar uma outra obra artística que não acrescenta nada, isso me dá dor de barriga por dois motivos: primeiro, pela falta de colhões do criador em fazer uma obra que venha de dentro dele, ao invés de fazer um trabalho puramente inspirado pelo trabalho de um outro artista, especialmente se esse outro artista é um lugar comum tão grande quanto os reis do yeah yeah yeah. Segundo pela falta de criatividade. Por que diabos todo mundo sempre faz esse tipo de filme com os Beatles? Só com eles. Existem dezenas de outras bandas e cantores cujas obras dariam excelentes pontos de partida para filmes. Não é o conceito da releitura que esses artistas buscam, mas sim a obviedade, a aposta certa, o máximo de lucro com o mínimo de risco ou esforço.

Todo mundo sabe que a imensa maioria dos produtores culturais só apostam no óbvio ululante e no (que eles acreditam ser) garantido. Vamos mudar de mídia e de forma de arte para provar o meu ponto: o circo mais lugar-comum e pseudo-criativo do mundo, o Cirque du Soleil - aquele que veio ao Brasil patrocinado pelo Bradesco, mas através de leis de incentivo do governo federal - fez um "espetáculo" inteiro só com músicas dos Beatles. Dá pra ser mais lugar comum do que isso? O Cirque du Soleil... e os Beatles. Eu também não vi e, obviamente, não gostei, mas tenho certeza que é mais um festival de abobrinhas costuradas por acrobacias e malabarismos, jogos de luzes, e outras diversões que suspendem o senso crítico dos observadores durante 90 minutos, breve em DVD.

E não vamos nos esquecer do famosíssimo episódio das Meninas Superpoderosas que é todo feito com músicas dos Beatles. Claro que com a dublagem em português a piada ficou muito mais críptica do que no original, mas mesmo todos os fãs de Beatles a-do-ra-ram esse episódio. Por que? Porque falava dos Beatles. Mas e daí? Não sei. Não importa. Eu entendi a piada. Eu sou especial.

Quanto mais o tempo passa, mais eu fico com o saco cheio desses medalhões culturais que todo mundo adora sem entender por que. Não é nem para ser do contra: é que eu sinto que era pra ter muito mais ali do que realmente tem. Todo mundo que se diz fã dos Beatles só gosta na verdade de umas 10 ou 20 músicas. São sempre as mesmas que aparecem em todo lugar. Sempre as baladinhas, as bonitinhas, as que têm violãozinho.

Vamos fazer um teste? Comparem a lista de músicas do espetáculo "Love" do Cirque du Soleil com a lista de músicas do filme "Across the Universe". São 18 músicas repetidas. De zoi to. Os Beatles lançaram 14 discos, fora os lados B de singles. Cada um tinha em média umas 12 músicas. Isso dá um total de 168 músicas. Dentre 168 músicas, os diretores do filme e do circo escolheram 18 músicas repetidas.

Falta de criatividade? Preguiça de pesquisar? Ou só mediocridade mesmo? Tanto faz.

Se vocês acham que estou exagerando, permitam-me lembrar-lhes de um "clássico" esquecido do gênero beatlesploitation: um filme baseado no Sargent Peppers, com os Bee Gees e o Peter Frampton nos papéis principais. Na trilha, além dos supra-citados, outros grandes nome da farofa dos anos 1970, como Aerosmith e Alice Cooper. Palpitante, hein?

Se você realmente gosta dos Beatles, sugiro que se atenha aos verdadeiros clássicos do gênero: "A Hard Day´s Night", uma ótima comédia maluca que influenciou todo mundo, tanto bandas quanto comediantes (o Monty Python por exemplo), e a cinebiografia "Backbeat", que tem uma trilha sonora sensacional, talvez a única que faça jus ao quarteto de Liverpool (ou octeto, se nos lembrarmos do papel fundamental que pessoas como Billy Preston, George Martin, Stuart Sutcliff e Pete Best tiveram na trajetória da banda). "Magical Mistery Tour" e "Yellow Submarine"? Oh, já chega de dor por hoje...

Bom. No fim das contas, o amor que você leva é igual ao amor que vocês faz. Por que não fazê-lo na estrada? Nunca se sabe o dia de amanhã...

"Across the Universe" - 2007, dir.: Julie "Rei Leão da Broadway" Taymor "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" - 1978, dir.: Michael "Car Wash" Schultz "Backbeat" - 1994, dir.: Iain "Hackers" Softley "A Hard Day´s Night" - 1964, dir.: Richard "Superman" Lester

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Grindhouse

Uma das melhores surpresas de 2007, "Grindhouse" cativou esse velho coração gelado com 3 horas ininterruptas de diversão, violência, suspense, tripas voando e garotas em trajes sumários (não confundir com "trajes sumérios", encontrados apenas nos filmes do Conan).

O conceito do filme não é genial, mas corajoso: reproduzir uma sessão dupla de drive-in dos anos 1970, em uma homenagem dos diretores (Quentin Tarantino e Robert Rodriguez) a essa grande escola de cinema onde os dois se formaram. Foi nessas sessões noturnas de filmes toscos que ambos aprenderam a ser cineastas, e não em faculdades mercantilistas tão comuns em Hollywood. Segundo a premissa inicial do filme, cada um desses diretores deveria criar um longa-metragem, e ambos seriam exibidos em seqüência, intercalados por vinhetas vintage e traillers falsos, criados por Rodriguez e outros 3 diretores. Basta dizer que o trailler de Rodriguez - "Machete!" - fez tanto sucesso que já está virando filme.

Infelizmente o mercado de cinema é muito burro e a idéia não vingou, então os distribuidores nos fizeram o desfavor de separar os dois filmes e exibi-los independentemente em salas diferentes. No Brasil, por exemplo, o filme de Rodriguez foi lançado antes do de Tarantino. Ridículo, e estragou a obra original - só nos resta esperar que o DVD seja correto!

Mas vamos aos filmes.

"Planet Terror", de Rodriguez, é uma espécie de remake amalucado de "A Volta dos Mortos-Vivos" ("The Return of the Living Dead", 1985, dir. Dan O'Bannon) - que por sua vez já era um spin off do grande clássico "A Noite dos Mortos-Vivos" ("Night of the Living Dead", 1968, dir. George Romero). Tanto em "A Volta" quanto em "Planet Terror", um gás verde que estava sob jurisdição de militares inescrupulosos transforma pacatos cidadãos ordeiros e pagadores de impostos em monstros antropófagos com uma predileção quase gourmet por cérebros humanos.

O filme de Rodriguez é uma bela homenagem ao gênero "zumbi", misturando referências e explorando novas formas de assassinatos criativos. Várias cenas são bastante aflitivas, até mesmo para fãs do gênero - e eu não estou falando apenas de tripas voando. Os atores, razoavelmente desconhecidos (exceto por Bruce Willis e Quentin Tarantino, ambos fazendo pontas como militares nojentos) estão muito bem no filme e dão o clima certo às cenas, caminhando perigosamente na tênue linha que divide o engraçado do ridículo.

"Death Proof", o filme de Tarantino na sessão dupla, é uma homenagem rasgada e emocionante a um gênero importantíssimo para a história dos filmes B: os filmes de carrões. Não estou falando de corridas de Formula Indy, mas sim de carros comuns - desses comprados em lojas - voando baixo através de estradas e rodovias, geralmente perseguidos por policiais e/ou mafiosos. Os próprios personagens do filme fazem questão de citar nominalmente vários representantes do gênero, especialmente o grande clássico "Corrida Contra o Destino" ("Vanishing Point", 1971, dir. Richard C. Sarafian) - que tantas vezes eu assisti no Corujão, nos gloriosos anos de minha infância.

O filme de Tarantino conta a história de quatro garotas que ficam presas em um bar durante uma tempestade, e acabam conhecendo um tal de Stuntman Mike. A partir daí... bom, eu não vou falar mais nada sobre a história porque esse filme é também uma homenagem a Alfred Hitchcock e seu clássico (e filme B, nunca se esqueçam) "Psicose" - e eu não estou me referindo nem a facas, nem a problemas psicanalíticos, nem a referências a Ed Gain, nem a chuveiros, e nem a trilhas sonoras do Bernard Herrmann - embora o toque do celular de uma das garotas do filme seja o tema de "Twisted Nerve", que Tarantino já havia utilizado na trilha sonora de "Kill Bill", e que depois foi remixada em uma versão horrível que toda vez que eu escuto me dá vontade de grumitar.

Como é de costume nos filmes de Tarantino, a trilha sonora de "Death Proof" é sensacional, cheia de músicas obscuras que mereciam um lugar ao sol. Outra característica do diretor que transparece nesse filme é a sua habilidade em desenterrar velhos astros esquecidos do grande público: Kurt Russel está ótimo no papel de Stuntman Mike. Provavelmente é seu melhor papel desde o inesquecível anti-herói Snake Plissken, o protagonista de outro clássico dos filmes B, "Fuga de Nova Iorque" ("Escape From New York", 1981, dir. John Carpenter) - esse eu não via no Corujão, mas sim na Sessão das Dez (na TVS, que depois virou SBT), logo após a Pantera Cor-de-Rosa.

O mais interessante em "Death Proof" é sua capacidade de provocar suspense e emoções em geral. Normalmente, em um filme como esses, você não espera se importar com nenhum dos personagens, e adivinha as falas de todos eles, esperando ansiosamente pelo final óbvio que chega inexorável após 90 minutos de projeção e pipocas. Pois Tarantino quebra vários paradigmas ao criar um filme realmente cativante. O suspense que se constrói lentamente é muito forte, e no final do filme eu me peguei com sentimentos em relação aos personagens que, confesso, não esperava ter. Tarantino faz tudo certo: você simpatiza com as mocinhas, fica com medo dos vilões, ri das piadas, torce muito na perseguição final - e além de tudo isso ele ainda consegue surpreender o espectador sem usar truques sujos. Fazia muito tempo que eu não me sentia assim, emocionalmente manipulado por um filme, e confesso que estava sentindo mais falta dessa sensação do que gostaria de admitir. É o tipo de emoção que só o cinema consegue criar, e que a grande maioria dos diretores não consegue criar - e nesse balaio podemos misturar diretor tão díspares quanto Jean-Luc Godard, Michael Bay e Lars Von Trier, por exemplo.

Resumindo: se você sabe se divertir, e consegue diferenciar filmes B bons de filmes B ruins, "Grindhouse" é um sopro de vida; um oásis de inteligência cinematográfica nesse deserto de idéias, habitado por remakes picaretas e computação gráfica ridícula. Imperdível!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Magnólia

Finalmente, depois de tantos anos, eu assisti ao tão falado "Magnólia". Desde 1999 eu ouvia falar muito bem desse filme, que me foi recomendado pelas mais variadas pessoas, e sempre tive curiosidade de vê-lo para entender o que havia de tão genial em um filme de 3 horas de duração que terminava com uma chuva de sapos e tinha o Tom Cruise no elenco.

3 horas depois, eu descobri: nada.

Não sei quando isso começou, mas parece que de uns 10 anos para cá todos os diretores iniciantes decidiram que o quente mesmo era fazer filmes com múltiplas linhas de tempo. Pegar vários personagens diferentes, e contar suas histórias de maneira embaralhada, para que no final tudo fizesse sentido, mostrando como a sociedade é complexa, que a vida é cheia de surpresas, blá blá blá.

"Magnólia" conta as histórias de várias pessoas: uma viciada em drogas que pensa que o pai a molestou, um policial careta que não consegue namorada, um menino prodígio explorado pelo pai no Show do Milhão, um trouxa que foi explorado da mesma forma nos anos 1960 e agora é só mais um desempregado, um picareta que ensina nerds otários a pegar mulher, um homem velho que trabalhava na TV e que agora está morrendo de câncer, sua esposa maluca que não toma os remédios para depressão e um enfermeiro desastrado que tenta fazer a coisa certa.

Como todas essas histórias se relacionam? É muito simples: um é casasdo com o outro, o outro é pai do outro, X comeu Y, fulaninho dormiu com não sei quem, e no final do filme tem uma chuva de sapos.

Não. É sério. No final do filme tem uma chuva de sapos.

E os personagens? Bom, os personagens são só um bando de pobres coitados precisando urgentemente de terapia. Só isso. Eles não são interessantes, não têm nenhum mistério, e não têm nada de interessante para dizer. Exceto talvez pelo velho, que faz um discurso interessante sobre arrependimento quando está prestes a morrer.

A culpa não é dos atores, que de maneira geral estão todos muito bem no filme. Até mesmo o Tom Cruise. Julianne Moore já se tornou especialista em mulheres frágeis e desesperadas com depressão clínica e tendências suicidas. Alfred Molina, irreconhecível, faz uma boa ponta como Solomon Solomon. William H. Macy, Melora Walters e John C. Reilley também estão bem. E Jason Robards, que deve ter uns 40 anos de carreira a mais do que todos esses outros atores, dá um banho de atuação como o moribundo Earl Partridge. Ele passa o filme inteiro deitado na cama, dormindo em metade das cenas, e mesmo assim é a melhor coisa do filme.

O que me decepcionou em "Magnólia" foi ver que um diretor potencialmente bom gastou um filme enorme tentando ser genial e só conseguiu fazer um filminho chato. O roteiro, que aparentemente esbarra em vários assuntos delicados, acaba por não se aprofundar em nenhum deles. Começa e termina com uma baboseira qualquer sobre coisas estranhas acontecerem, e usa algumas famosas lendas urbanas totalmente fantasiosas como exemplo. E no final joga uma chuva de sapos para fingir que é um clímax ou algo do tipo. Mas é só um monte de sapos caindo do céu. Não tem nenhuma epifania nisso.

Acho difícil comparar esse filme com algum outro, mas vamos tentar: em termos de "filmes complexos cheios de relações inter-pessoais", eu diria que "Corra, Lola, Corra" é muito mais bem sucedido do que Magnólia. Funciona melhor, é mais redondinho, e as relações entre os personagens são mais significativas. Aquela doideira toda da edição e da história funcionam muito bem e têm algo a dizer.

Outro filme que me veio à memória foi "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", por causa dessa necessidade que "Magnólia" tem de a todo momento reafirmar que o mundo é um lugar mágico onde coisas estranhas acontecem. Amélie resolve essa "questão" com maestria e realmente chega em algum lugar - sem chuva de sapo, sem Tom Cruise, e com uma trilha sonora interessante.

Outra coisa: por que diabos o filme se chama "Magnólia"? Em todos os cômodos dos cenários aparece um quadro de uma magnólia pendurado na parede. E daí? Eu só reparei isso porque li em algum artigo. Por mim o filme poderia se chamar "Chuva de Sapos" ou "A Vida É Uma Confusão". Ia dar na mesma. Por que não "Petúnia" ou "Girassol"?

Resumindo: Um filme chato e pretensioso que não chega a lugar nenhum, e ainda usa um truque sujo para resolver a história. Alguém por favor pague um curso de roteiro pra esse menino. Tragam as sandálias da humildade para ele!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Prazer Doloroso do Senso Crítico

Desde criança todo mundo sempre me achou chato. Não aquele chato de festa, que fica perguntando se o pavê é para ver ou para comer. Mas aquele chato velho, ranzinza, que não gosta de nada. Pelo menos posso dizer em minha defesa que nunca, a não ser em algumas fases mais extremas da minha aborrescência, fui daqueles chatos que ficam impondo sua opinião sobre os demais. Pelo contrário: sempre fui quieto no meu canto, e adepto fervoroso da filosofia do “viva e deixe se foder”.

Obviamente, quando uso a palavra “chato”, estou senso irônico. Essa foi a palavra que usaram para me definir tantas vezes. Eu, aqui do meu lado, prefiro outra: crítico. Essa palavra também já foi usada muitas vezes como ofensa a alguém, e eu acho isso um problema muito sério. Porque o crítico, em sua essência, não é um chato. É um analista.

A palavra “crítico” vem do grego κριτικός (kritikós) - aquele que discerne, que por sua vez veio do grego antigo κριτής (krités) significando uma pessoa que oferece um julgamento ou análise, julgamento de valores, interpretação ou observação.

Faz parte da minha profissão ver milhares de filmes e analisá-los criticamente, de vários pontos de vista. Não sou desses críticos pop que assistem a todos os filmes que saem no cinema e depois se limitam a comentar “gostei / não gostei”, e tampouco sou daqueles chatos de gola rolê que ficam nos cafés na porta dos cinemas falando abobrinhas sobre o cinema iraniano ou morrendo de saudades do Glauber Rocha e da Greta Garbo. Me posiciono como um pesquisador acadêmico, com várias linhas de pesquisa, que trata o cinema como um todo, sem gavetinhas nem pose de nada. Não me visto como um crítico de cinema, não escrevo como um, e não concordo com a maioria deles. Tenho minhas próprias opiniões, e terei prazer em compartilhá-las com os amigos leitores, mesmo que isso me custe algumas amizades.

Sejam bem-vindos.