quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Prazer Doloroso do Senso Crítico

Desde criança todo mundo sempre me achou chato. Não aquele chato de festa, que fica perguntando se o pavê é para ver ou para comer. Mas aquele chato velho, ranzinza, que não gosta de nada. Pelo menos posso dizer em minha defesa que nunca, a não ser em algumas fases mais extremas da minha aborrescência, fui daqueles chatos que ficam impondo sua opinião sobre os demais. Pelo contrário: sempre fui quieto no meu canto, e adepto fervoroso da filosofia do “viva e deixe se foder”.

Obviamente, quando uso a palavra “chato”, estou senso irônico. Essa foi a palavra que usaram para me definir tantas vezes. Eu, aqui do meu lado, prefiro outra: crítico. Essa palavra também já foi usada muitas vezes como ofensa a alguém, e eu acho isso um problema muito sério. Porque o crítico, em sua essência, não é um chato. É um analista.

A palavra “crítico” vem do grego κριτικός (kritikós) - aquele que discerne, que por sua vez veio do grego antigo κριτής (krités) significando uma pessoa que oferece um julgamento ou análise, julgamento de valores, interpretação ou observação.

Faz parte da minha profissão ver milhares de filmes e analisá-los criticamente, de vários pontos de vista. Não sou desses críticos pop que assistem a todos os filmes que saem no cinema e depois se limitam a comentar “gostei / não gostei”, e tampouco sou daqueles chatos de gola rolê que ficam nos cafés na porta dos cinemas falando abobrinhas sobre o cinema iraniano ou morrendo de saudades do Glauber Rocha e da Greta Garbo. Me posiciono como um pesquisador acadêmico, com várias linhas de pesquisa, que trata o cinema como um todo, sem gavetinhas nem pose de nada. Não me visto como um crítico de cinema, não escrevo como um, e não concordo com a maioria deles. Tenho minhas próprias opiniões, e terei prazer em compartilhá-las com os amigos leitores, mesmo que isso me custe algumas amizades.

Sejam bem-vindos.

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