domingo, 10 de maio de 2009

Veteranos de guerra elegem melhores filmes


A instituição de caridade Erskine, da Escócia, que cuida de veteranos de guerra, entrevistou 3.000 deles e perguntou qual era o filme de guerra favorito deles. Esses foram os mais votados:

  1. Schindler’s List
  2. The Great Escape
  3. Saving Private Ryan
  4. Enemy at the Gates
  5. Braveheart
  6. Apocalypse Now
  7. Gone With the Wind
  8. The Bridge on the River Kwai
  9. Where Eagles Dare
  10. Platoon
Alguns rápidos comentários sobre a lista:
  • "Coração Valente" aparece na lista em ótima posição, muito provavelmente porque a pesquisa foi feita na Escócia.
  • Interessante ver o "antigo" e "esquecido" Fugindo do Inferno em glorioso segundo lugar.
  • E O Vento Levou é provavelmente o único grande filme de guerra que tem mais progesterona do que testosterona.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

TÓSCAR - Cobertura Completa

O "NV&NG" não é imobiliária nem construtora, mas a partir de hoje oferece uma cobertura completa do Oscar - o Oscar do cinema.

Para começar, eu nunca entendi essa mania irritante que os "jornalistas" têm de comparar todos os prêmios do mundo ao Oscar. O Grammy é o Oscar da música, o Emmy é o Oscar da televisão, o Tony é o Oscar do teatro... e o Globo de Ouro, é o Oscar do quê? Daqui a pouco estão chamando o Prêmio Nobel de "o Oscar da Física". É rir pra não chorar.

Outra coisa irritante do Oscar é que todo ano um bando de trouxas se senta no sofá comendo pipoca e fica apostando em quem vai ganhar os prêmios. Será que até hoje eles não entenderam que o Oscar é totalmente subjetivo, não tem absolutamente nenhum critério de seleção, e que nunca ganha o filme que a gente queria que ganhasse? Bolas, os filmes de que a gente gosta sequer concorrem! Resta apenas ficar esperando que o Billy Cristal faça alguma boa piada. A única parte boa da festa é quando tem um vídeo com todo mundo que morreu no ano que passou e o Rubens Ewald Filho fica falando o nome de todo mundo tão rápido que parece que ele vai desmaiar.

Aliás, tem uma grande novidade no Oscar desse ano: pela primeira vez em sei lá quanto tempo, a premiação não vai passar na Globo. O evento vai acontecer no mesmo dia do início do desfile das escolas de samba, e a emissora carioca decidiu que o Brasil inteiro deve ver o carnaval do Rio ao invés de um prêmio de cinema que o mundo inteiro vai estar assistindo menos a gente. Porque, vocês sabem como é: o Rio de Janeiro é tão maravilhoso que o Brasil inteiro adora tudo que vem de lá.

Mas não se aflija, fiel leitor: acompanhe nossa transmissão ao longo do mês de Fevereiro, onde estaremos comentando todos os candidatos ao Oscar. E, no dia do show, faremos uma transmissão ao vivo direto pelo Twitter.

E que se foda a pipoquinha.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

"The Wild Angels" (1966, dir. Roger Corman)

Eu tinha 7 anos de idade quando vi esse filme pela primeira vez. Nunca comprei uma moto nem usei adereços nazistas para chocar a sociedade, mas o impacto de ver Peter Fonda de jaqueta de couro e óculos aviator discutindo com um padre e questionando o papel da sociedade e da religião deixou marcas indeléveis na minha mente. Acho que foi nessa madrugada, vendo filmes escondido de meus pais na extinta TV Manchete, que perdi minha inocência e tornei-me um homem.

Hoje, 22 anos depois, o filme não parece mais tão assustador quanto naquela época, mas ainda guarda boas surpresas. Segundo o próprio Fonda, o germe de "Easy Rider" já estava aqui, e foi inspirado por esse filme que ele escreveu o roteiro do filme de motoqueiros definitivo, aquele que retratou com fidelidade a desilusão e o lado sombrio dos anos 1960. Enquanto Nova York curtia Woodstock, a California tinha Altamont. The Wild Angels e Easy Rider são retratos dessa outra realidade.

A história do filme é simples: os Hells Angels de San Pedro vão até o México recuperar a moto de um deles que havia sido roubada. Há uma briga em uma oficina mecânica, que chama a atenção da polícia. Na fuga, o motoqueiro Loser (Bruce Dern), amigo do líder da gangue, Blues (Fonda), foge na moto de um dos policiais. O outro tira o persegue pela estrada, e atira em suas costas. Levado o hospital, Loser é resgatado por seus companheiros, mas acaba morrendo no esconderijo praiano da gangue. Seu corpo é levado até a cidade onde ele nasceu, a bucólica e arborizada Sequoia Groves. Em um caixão ornado por uma bandeira nazista, Loser é velado, e um padre é chamado para fazer o serviço. Quando ele começa a falar sobre Deus e a vida, Blues se levanta e questiona o que ele diz. Começa então uma grande festa na igreja, com tudo que uma orgia de motoqueiros tinha direito nos anos 1960: congas, surf music, bebidas, estupros, e dancinhas malucas. Eles então levam o corpo de Loser até um cemitério para finalmente enterrá-lo, mas são seguidos por uma multidão de curiosos. Começa uma briga, e os motoqueiros fogem quando ouvem a sirene da polícia. A namorada de Blues pede a ele que fuja com ela, mas ele responde: "Não há para onde ir". As motos fogem pela floresta enquanto a polícia chega, e Blues se resigna a pegar uma pá e começar a enterrar o amigo morto.

Comportado para os padrões hollywoodianos de nossa época, o filme provocou muita polêmica quando de seu lançamento -uma especialidade de seu diretor e produtor, o lendário Roger Corman. Proibido no Reino Unido, só foi lançado na ilha da rainha em 1971, com severos cortes. Nos EUA, Corman foi processado pelos próprios Hells Angels, que o acusaram de ter feito uma imagem distorcida do grupo.

O destaque da história fica por conta da relação "amorosa" entre Blues e sua namorada Mike (Nancy Sinatra). Depois da morte de Loser, Blues torna-se melancólico e distante. Esse clima do personagem vai ser posteriormente a semente de Capitain America em Easy Rider.

A trilha sonora tem alguns bons momentos, nas mãos do lendário (para mim) Davie Allan e sua banda The Arrows, especialmente no hit "Blues' Theme". O single chegou ao número 37 da parada da Billboard, onde permaneceu por 17 semanas. Foi a primeira música que Eddie Van Halen aprendeu a tocar na guitarra.

Fiquei reparando na trilha e vendo como em 1966 ainda era absurdo pensar em distorção. Nas cenas mais loucas, onde os motoqueiros quebram tudo, a música parece uma versão instrumental de alguma música dos Beach Boys com bongôs e congas. Aliás as congas aparecem nesse e em vários outros filmes da época como um símbolo de pura selvageria. Vai entender. 3 anos depois, a trilha de Easy Rider já seria completamente diferente, misturando folk, country, psicodelia, overdrive e fuzz.

Quanto à iconografia nazista, os motoqueiros dessas gangues usavam esses símbolos para chocar as pessoas. Até onde constam os alfarrábios, nenhuma dessas gangues tinha qualquer espécie de envolvimento com política ou ideologias, e só queria saber de curtir, beber, transar, fumar maconha, e pilotar as máquinas. No começo do filme um homem diz "nós costumávamos matar caras que usavam essas coisas", ao que os motoqueiros respondem... nada. A origem disso deve estar no fato de que essas gangues da California nasceram logo após o fim da II Guerra Mundial, quando os soldados que voltaram bastante perturbados do front se recusavam a se misturar na sociedade, preferindo ficar de fora do esquema e curtir sua depressão em paz.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

"Vá e Veja" (1985)

Até hoje, "Vá e Veja" era apenas um título na minha memória. Quando esse filme foi lançado, em meados dos anos 1980, eu era apenas uma criança, e não estava preparado para compreender nada do que ele significava. A censura não me permitiria vê-lo, talvez por causa das cenas de violência, talvez por causa das cenas de verdade.

O filme de Elem Klimov é passado na Bielorrússia, na véspera da invasão do território pelos soldados alemães na II Guerra Mundial. No filme, acompanhamos a trajetória do menino Florya Gaishun, que abandona a família para se juntar à guerrilha de resistência de sua pequena aldeia na zona rural. Os alemães atacam, e Florya se perde do grupo.

Estrategicamente, o filme se concentra em apenas um garoto, e em apenas um vilarejo para contar sua história. Depois de nos fazer compreender o que significou todo o horror daqueles eventos, um letreiro no final nos informa que o que acabamos de testemunhar ocorreu não uma, mas centenas de vezes naquele país. A Bielorrúsia é a fronteira lesta da Polônia, e era a principal porta de entrada dos alemães rumo à União Soviética. O país ficou sob o domínio dos nazistas entre 1941 e 1944. Nesse período, os alemães destruíram 209 das 290 cidades do país, e destruíram mais de 600 vilarejos rurais. Os nazistas também destruíram 85% das indústrias emais de um milhão de edifícios, causando perdas humanas estimadas entre 2 e 3 milhões de pessoas (de 1/4 a 1/3 da população total do país).

É sempre interessante ver um filme de II Guerra que não conte apenas o ponto de vista dos estadunidenses ou dos ingleses. A história é sempre contada do lado dos vencedores, e dificilmente temos a oportunidade de ver um filme sobre os massacrados da guerra. Geralmente o que vemos são heróis bem armados e em veículos bonitos, esbanjando coragem e inteligência. Poucas pessoas fazem filmes sobre o verdadeiro horror da guerra.

Um dos poucos que se dedicam a isso em nossos tempos, e que certamente é um fã de carteirinha de "Vá e Veja" é Steven Spielberg, que certamente se inspirou nesse filme para "O Resgate do Soldado Ryan", mais especificamente na famosa seqüência inicial.

Depois disso tudo, o título do filme permace de certa forma misterioso. A frase "vá e veja" não é dita hora nenhuma no filme - é praticamente uma mensagem direta do diretor ao espectador, declarando abertamente o seu objetivo ao fazer esse filme.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

"Devil's Angels"

Acordei num puta mau humor, com jet-lag de horário de verão, telefone tocando, interfone, o diabo. Voltei pra cama por volta das 9 da manhã - isso é o que dizia o relógio, na verdade eram só 08:00 - e liguei a TV para ver se espantava os maus espíritos.

Foi quando vi no Telecine Cult os créditos iniciais de "Devil's Angels" (1967), produzido por Roger "Nunca Dei Prejuízo" Corman e estrelado por John "Faces" Cassavettes.

É um filme de motoqueiros na linha de "The Wild One" com o imortal Brando, e que na minha cabeça faz dupla com outro filme de Corman com Angels no título: "Wild Angels", de 1968, estrelado por Peter Fonda, que já tinha trabalhado com Corman em "The Trip". Esses dois filmes inspiraram Fonda a escrever "Easy Rider".

Quatro filmes de motoqueiros com uma coisa em comum: retratar, bem ou mal, os niilistas e pós-existencialistas não-intelectuais dos Estados Unidos de meados do século XX. São filmes que nos recordam que até mesmo os incultos têm o direito de não acreditar em nada - e que por isso mesmo serão sempre perseguidos até a morte pela polícia e pela igreja.

Trilha sonora memorável de Davie Allan & the Arrows.

Beverly Adams parece um sonho como Lynn, a namorada de Cody (Cassavettes) - ela é a gostosa Cassandra de "Como Encher Um Biquíni Selvagem".

Na fila: "Tuff Turf" e "The Wraith - A Aparição".

domingo, 31 de agosto de 2008

Com apenas 1 ano de atraso... Oscar 2007!

Assisti recentemente a dois filmes que concorreram ao Oscar 2007. De todos os filmes que concorreram naquele ano, eram dois dos únicos poucos que eu fiquei com vontade de ver algum dia.

Dreamgirls (2006, dir. Bill Condon)

Dreamgirls é baseado em um musical da Broadway dos anos 1980. Se eu soubesse disso antes, jamais teria perdido meu tempo vendo o filme. Mas já que a ignorância nos fazer as coisas mais loucas, acabei encarando as três horas de duração do filme. Na verdade são apenas 130 minutos, mas parecem mais.

O problema básico do filme é que o roteiro e a edição foram feitos tendo em mente o público adulto feminino estadunidense, ou seja: muito detalhe e cuidado nas roupas e nas cenas de amor, e absolutamente nenhum compromisso com a verdade, fatos históricos, ou alguma espécie de estrutura narrativa. Em resumo, é um filme de emoções baratas e músicas ruins, que estragam o que poderia ter sido um épico musical dos mais interessantes. A história, baseada mal e porcamente na trajetória da gravadora Motown, é uma picaretagem danada que mistura biografias reais com fatos misturados, deixando os "inspiradores" do texto com o filme sujo na praça.

A Dreamworks, produtora do filme, afirma veementemente que o roteiro é totalmente ficcional, e se recusa a admitir o óbvio: Curtis é Berry Gordy, as Dreamettes são as Supremes, C.C. é Smokey Robinson, e o personagem de Eddie Murphy é uma mistura de Jackie Wilson com Marvin Gaye.

O maior problema do filme é que nenhum desses talentos da vida real aparece realmente nos filmes. Nos contemporâneos "Way" e "Walk the Line" você ouve as músicas originais, e elas são excelentes, capazes de salvar qualquer roteiro ruim ou edição picareta. As músicas de "Dreamgirls" são apenas musiquinhas medíocres da Broadway, e as cantoras principais cantam se esgoelando o tempo todo, como se estivessem competindo por uma medalha de ouro. Elas fazem tanta força para modular a voz o máximo de vezes possível em cada sílaba da letra que a gente fica até sem fôlego. E quando você faz um filme musical onde o seu melhor cantor é o Eddie Murphy, é sinal de problemas.



No Country For Old Men (2007, dir. Joel Coen & Ethan Coen)

Sempre um oásis no grande deserto que se tornou o cinema estadunidense, os irmãos Coen fabricam dois tipos diferentes de filmes: aqueles que eles são pagos para fazer, e aqueles em que eles realmente se concentram. É fácil perceber qual é qual só de assistir os filmes ou de ver a lista de atores. E esse é um dos "bons".

A maior crítica que eu ouvi a esse filme foi a de que o final é aberto e não explica nada. Aparentemente, as pessoas acham que, se o filme não termina com uma perseguição em alta velocidade e um bandido sendo preso ou morto, o final é aberto. Não é bem assim que funciona.

Eu já atingi um zen cinematográfico tão elevado que para mim até mesmo o final de "Blow Up" é fechado o suficiente para me satisfazer. Pois o final de "No Country For Old Men" é bastante adequado. O filme não conta a história de um policial que persegue um bandido. Ele é uma reflexão sobre a profissão de policial, a natureza do crime, e várias outras coisas que não podem ser resolvidas com tiroteios e explosões.

Sempre bebendo na fonte do mestre Hitchcock, os irmãos Coen criam nesse filme um McGuffin clássico: uma mala cheia de dinheiro, encontrada por um caipirão meio cowboy. Ele a encontra no meio de um monte de traficantes mortos, e pega o dinheiro para tentar melhorar de vida com sua esposa. Surge em cena um assassino profissional que começa a persegui-lo, e cria-se então um triângulo dramático entre o assassino e seus contratantes, o homem com a mala cheia de dinheiro, e um xerife que persegue o assassino por causa de outros crimes, e tenta ajudar o homem da mala.

O que acontece nesse imbroglio todo eu não posso contar senão estraga o filme, mas preciso reafirmar que o final não é nada aberto. Ele é apenas real demais para satisfazer o público mais ingênuo. As pessoas esperam que um filme funcione como uma luta livre encenada, onde o bom vence o mau e a justiça sempre triunfa. Acontece que a vida real não é assim. Ela é fragmentada, não-linear, e depende muito mais das ações das pessoas do que de conceitos como justiça, verdade, pureza, honra, glória e outras baboseiras. Se no final desse filme você ficar frustrado porque o vilão não morreu nem foi preso, você não entendeu nada. Volte para o começo e tente novamente. Ou então assista "Zodiac", do David Fincher.



Vou fechar esse comentário com uma citação que vem bem a calhar, e que tem me ajudo muito a compreender o vastíssimo e complicado universo do cinema:

"A realidade é mais estranha do que a ficção,
porque a ficção precisa ter algum sentido."
- Mark Twain