domingo, 13 de julho de 2008

Frank Sinatra, o ator

Eu conheços muitos fãs do Frank Sinatra. Mas todos eles sempre falam sobre as músicas. Não tenho nada contra elas, mas, pessoalmente, sempre preferi o Sinatra ator do que o cantor.

Vou explicar.

Tudo comeou quando vi "The Man With the Golden Arm" (1956, dir. Otto Preminger) pela primeira vez. Desconfiado da presença de Sinatra no papel de um baterista viciado em heroína, confiei na direção de Otto Preminger e não me decepcionei. A atuação de Sinatra é precisa e comovente, e fica difícil imaginar que o estúdio havia reservado o papel para Marlon Brando. Nada contra Brando, mas depois de ver o filme com Sinatra, fica difícil imaginar qualquer outro ator em seu lugar.

Esse filme não é tão famoso quanto deveria. Para exemplificar o quanto ele é forte e pertinente, basta dizer que, em 1956, mostrar uma pessoa tomando heroína em um filme era mais do que impensável. O filme não conseguiu ser lançado até o ano seguinte de sua produção, quando modificações no "código de ética" de Hollywood permitiram que ele recebesse um lançamento oficial da indústria. Até então, temas como drogas, incesto e estupro estavam proibidos de ser mostrados e discutidos em filmes.

A história é simples e comovente: o baterista de jazz Frankie Machine, viciado em heroína, precisa ganhar dinheiro para sustentar sua esposa paralítica, que ficou aleijada por culpa dele. Nos velhos tempos ele costumava ganhar dinheiro da máfia trabalhando como croupier em mesas clandestinas de poker. Quando ele decide largar tudo e dedicar-se exclusivamente a tocar bateria, os mafiosos o convencem, com a ajuda da heroína, a continuar dando as cartas mais um tempo, e ele fica preso nesse círculo vicioso sem ter chance de escapar. Até que... não, desculpem, não vou contar o final.

Reforcei minha admiração pelo Sinatra ator ontem à noite, quando finalmente consegui rever um clássico que sempre me escapuliu: "The Manchurian Candidate" (1962, dir. John Frankenheimer). Nesse filme, soldados que voltaram da Guerra do Coréia começam a ter sonhos idênticos e perturbadores, e começam a desconfiar de que foram vítimas de lavagem cerebral.

Se eu soubesse sobre o que esse filme realmente se tratava, eu o teria visto há muito mais tempo. A lavagem cerebral é apenas o ponto de partida de um esquema muito mais sinistro, envolvendo senadores, imprensa, e a eleição do próximo presidente dos EUA. Tudo isso misturado a relações psicológicas muito esquisitas entre um herói de guerra, sua mãe, seu padrasto, sua ex-namorada, e um mordomo chinês.

Para vocês terem uma idéia do impacto do filme na época de seu lançamento, ele foi proibido em muitos países da Cortina de Ferro, como Polônia, Tcheco-Eslováquia, Hungria, Bulgária, Romênia, e até mesmo em países ditos "neutros" na época da Guerra Fria, como Finlândia e Suécia. Na maioria desses países, o filme só foi liberado em 1993, depois da separação da União Soviética.

Infelizmente, em pleno ano de 2008 esse filme continua atual e assustador. Não que eu acredite que os soldados americanos estão sendo capturados pelos inimigos e tendo suas mentes lavadas e reprogramadas por comunistas chineses e russos - é que agora eles não precisam mais ir tão longe para que isso aconteça. Depois que a guerra fria acabou, quem é o verdadeiro inimigo?